04 março, 2010

O (não) fascínio de aprender

Uma citação de um livro de John Holt.
Apesar de ter sido escrito originalmente em 1967, revisto em 1983 e publicado em Portugal em 2001, continua a ser pertinente o seu conteúdo.
Do capítulo " A Arte, a Matemática e outras coisas", paginas 183,184:



" O desenho à escala encerra, igualmente, muitas possibilidades. Lembro-me de ver, quando era pequeno, alguém fazer uma cópia em ponto grande de uma imagem pequena, colocando o original numa grelha - papel quadriculado ou milimétrico - transferindo-o depois para uma grelha maior. Penso que até experimentei uma ou duas vezes e ficava sempre admirado ao ver que dava resultado. No entanto,isto não fazia parte do trabalho da escola, tínhamos de prestar atenção para não sermos vistos. Contudo, é fácil imaginar o fascínio de uma turma de crianças pequenas a começar com um pequeno desenho de linhas e a transformá-lo num cada vez maior, até consegui uma cópia que cobrisse uma parte da parede ou o quadro. Por sua vez, isto podia conduzir à noção de pontos coordenados, gráficos e geometria analítica, representando imagens com  algo que não era uma imagem, mas sim uma função. Ou, de um ponto de vista diferente, podia fazer nascer a ideia de realizar desenhos exactos de vários objectos, em várias escalas, passando daí à medição, não só de comprimentos, mas também de ângulos, sendo até possível chegar à feitura de mapas.
      É fácil ver quanta aritmética está presente nisto. Uma das ideias fundamentais subjacentes às actividades da escola é que as crianças têm de passar muitos anos a memorizar uma série de factos aborrecidos, antes de poderem começar a fazer coisas interessantes com eles. É uma forma idiota de fazer as coisas e não funciona. A maior parte das crianças aborrece-se tanto com essa aprendizagem que desiste antes de ter adquirido os conhecimentos suficientes que lhe permitiria fazer algo interessante. E mesmo entre as crianças que aprendem todos esses factos, a maioria fica com o raciocínio tão embotado por este processo que não consegue lembrar-se de nada interessante em que os aplicar, limitando-se a acumular mais e mais factos -  o que explica grande parte da actividade que se desenvolve nas nossas escolas superiores e universidades."
in  "Como aprendem as crianças", de John Holt, 1967, 1983. Editorial presença 2001, tradução de Isabel Nunes

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