16 fevereiro, 2014

O tutor digital vai aonde o professor não chega


Hoje no Público, um artigo interessante e importante, para todos os professores!


Um estudo-piloto feito pela Universidade do Minho demonstra queo uso da aplicação hipermédia, construída por especialistas de Matemática e de Psicologia de Educação, pode contribuir para o sucesso escolar. 


A experiência no terreno envolveu 62 docentes e 2862 estudantes do 8.º ano .      fotografia de David Clifford  


“Tenta resolver a questão antes de ires à página das soluções.” “Só deves ver a solução depois de teres tentado resolver o problema.” “É a terceira vez que tentas ver a correcção.” Num tom paciente, mas firme, o tutor digital ganha corpo no monitor do PC, cobrindo triângulos rectângulos sempre que um aluno mais apressado tenta saltar um exercício de aplicação do Teorema de Pitágoras.
Aquele avatar (que também sabe ser prestável) foi considerado decisivo para os resultados do estudo-piloto realizado pela Universidade do Minho (UM). E isto porque, explica Isabel Garcês, uma docente de Matemática que participou na experiência, “o tutor digital consegue ir aonde o professor não chega: a cada um dos alunos”.
Uma aplicação hipermédia, explica Ricardo Pinto, professor da UM, alia o multimédia ao hipertexto para, através de links, proporcionar “a mobilidade do utilizador”, que em vez de aceder a uma informação apresentada de forma sequencial e linear tem autonomia para criar um percurso próprio de navegação, consoante os seus objectivos e necessidades. E a questão em que o estudo assentou foi: o uso de aplicações daquele género na sala de aula pode promover o sucesso escolar? “A resposta é ‘sim’”, adianta Ricardo Pinto, que vai apresentar os resultados da investigação na sua tese de doutoramento. 
2862 alunos testados
A experiência no terreno decorreu há cerca de um ano, durou três semanas e envolveu 62 docentes e 120 turmas com um total de 2862 estudantes do 8.º ano. A aplicação testada foi uma das muitas alojadas no sítio da Internet Hypatiamat, um projecto em curso destinado a alunos do 5.º ao 9.º ano e aos respectivos pais e professores.
Na sequência de uma acção de formação para docentes de Matemática sobre o Hypatiamat, foram criados três grupos, cada um composto pelos alunos de 40 turmas. O grupo experimental 1 usou a aplicação Teorema de Pitágoras de forma sistemática, nas aulas e em casa, com o apoio dos respectivos professores; os alunos do grupo experimental 2 apenas foram informados sobre a existência da aplicação e da possibilidade de a ela recorrerem; os estudantes das 40 turmas que formaram o grupo de controlo não tiveram qualquer contacto com a ferramenta.
Ricardo Pinto relata que nos testes anteriores à experiência, os três grupos (cada um com 40 turmas) tinham resultados semelhantes no que respeita ao domínio de conteúdos (entre 45,61% e 45,91%, sendo o mais alto o do grupo de controlo). Mas os testes feitos depois de três semanas de aulas sobre o Teorema de Pitágoras mostraram diferenças entre os três que os investigadores consideraram significativas, do ponto de vista estatístico.
O grupo de controlo obteve a nota média 47,84 % e o dos alunos que usaram a aplicação do Hypatiamat por sua iniciativa a de 51,47%. No grupo de 40 turmas em que a aplicação relativa ao Teorema de Pitágoras foi utilizada sistematicamente para aprender, praticar e consolidar conhecimentos, na escola e em casa, a média foi a mais alta: 62,7%.
Os resultados dos testes às estratégias de auto-regulação da aprendizagem (capacidade para estabelecer objectivos, planear o estudo, testar conhecimentos, colmatar falhas, etc) também foram considerados relevantes. Numa escala de 0 a 5 valores, o grupo de controlo passou de 3,47 para 3,42; o grupo que usou a aplicação de forma esporádica subiu de 3,47 para 3,49; o que a utilizou de forma sistemática saltou de 3,50 para 3,75.
“Um encontro feliz”
Os resultados da investigação — que serão analisados de forma aprofundada na tese de doutoramento de Ricardo Pinto — foram recebidos com entusiasmo nas Universidades do Minho e de Coimbra. “Já sabíamos que era assim, mas a notícia veio reforçar a convicção de que este encontro entre a Tecnologia, a Psicologia, as Ciências da Educação e a Matemática foi muito feliz”, comenta Dina Loff.
Fala do encontro no sentido literal. Dina Loff é uma investigadora, professora universitária, que foi chamada a dar formação a professores do ensino básico e secundário e que “por acaso” se cruzou, nesse papel, com Pedro Rosário. Pedro Rosário estava ligado à formação de docentes porque, para além de vice-presidente da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, é especialista em Psicologia da Educação e em auto-regulação da aprendizagem. Foi com ele que, por sua vez, se encontrou na UM Ricardo Pinto, que, depois de 20 anos a dar aulas de Matemática a miúdos do 3.º ciclo, decidiu voltar à universidade para fazer o mestrado em Tecnologias Educativas.
Constituída por outros elementos, a equipa do Hypatiamat caracteriza-se “pela carolice, pelo entusiasmo e pela abertura de espírito”, descreve Dina Loff. Se uns sabem de Matemática, outros são especialistas em didáctica ou em estratégias de auto-regulação. Por isso se concentram, no que respeita a cada conteúdo, em aplicar o que sabem naqueles três domínios, explica Pedro Rosário.
É nesse contexto que aparece o tutor digital. Firme (“Verificar sem aprender não é uma estratégia para quem quer aprender”), mas preocupado (“que dificuldades estás a sentir?”), prestável (“Queres ajuda?”) e generoso (dando pistas, aconselhando revisões, explicitando o enunciado e ajudando a desenhar estratégias). “Faz o que eu não consigo com uma turma de 30 alunos: presta atenção a cada um, individualmente, e ajuda-o a traçar o seu próprio percurso”, afirma Isabel Garcês.
Aulas mais participadas
Com 20 anos de serviço, aquela professora, que participou na experiência, explica que as aulas “são muito mais participadas”. E que os trabalhos de casa não só se tornam mais divertidos para os alunos (nativos digitais, como os classifica Ricardo Pinto) como fornecem informação preciosa aos professores. O sistema oferece-lhes um relatório que permite saber se os alunos fizeram o trabalho de casa, quanto tempo demoraram a fazê-lo, se tentaram saltar para a solução, que estratégias usaram para ultrapassar obstáculos.
Os alunos têm ao seu dispor o “skillómetro”, um instrumento de registo das capacidades e conhecimentos adquiridos que não se limita a apontar os ganhos e a assinalar as falhas, mas sugere caminhos para chegar aos 100%. O controlo sobre a evolução e a necessidade de escolher uma estratégia reforça a capacidade de auto-regulação da aprendizagem, frisa Pedro Rosário.
O objectivo da equipa do Hypatiamat é, agora, cobrir todos os conteúdos do 5.º ao 9.º ano. Pedro Rosário garante que aos professores “que invariavelmente perguntam quando começarão a pagar pelos conteúdos” responderão sempre: “Nunca.”


01 fevereiro, 2014

The Preacher Gave the Sermon. Bach Made it Sing.

Retirado de Big Think um texto de John Eliot Gardiner
Não traduzo porque não sou especialista, mas podem usar o tradutor disponível aqui no blog.
 
"The amazing thing about Johann Sebastian Bach more than any other composer I can think of is that he tolerates such a diversity of different interpretations.  You can play him on an organ.  You can play him on a Moog synthesizer.  You can play him sung by a mass choir, a huge symphony orchestra or a minimalist ensemble of just one voice or one instrument per part.  And he still comes through.  You can transcribe his cello music for mandolin, for any single instrument and it still packs its punch and comes over with extraordinary pathos and attractiveness, too. 
Because contrary to the popular image I think that many people have of Bach as being a bit kind of mathematical and remote and severe, the music itself tells you something quite different.  The music is complex.  The music is mathematical.  But it has amazing dance impregnated rhythm and secularity. Even when he’s writing to the glory of God there is a sense of kind of secular joy, secular ebullience and effusion in his writing which makes it so attractive.  And it leaps over all the boundaries of nationality, of date, of period.  And really it reinforces the idea that this is music that is for our time. 
I feel this particularly strongly as regards the church cantatas that he wrote and we’ve got about 200 of them.  There may have been many more but have got lost in the sands of time that either were burned or used to light fires or just perished.  They’re extraordinary pieces because in a way you could think nothing more irrelevant to our times because they were written for a very specific moment in a church service within the liturgy of a parochial liturgy in a provincial town in Germany.  And yet there is something about the way that Bach formulates his music that leaps over all those obstacles and those division and speaks to us very directly now. 
And I think it’s representative of his urgent need to communicate and to impart his own feelings.  Not just to be a compliant servant of the clergy of the church but to have his own views as to how the Christian doctrine appeals to him and also how he thinks it applies to his fellow man.  Because there’s no doubt about it, he puts his own spin on the texts.  And that, I suppose, begs the whole question of the relationship between music and text. 
Music is not always the compliant hand servant, the maid servant of text.  It can operate according to its own rules and it can function quite differently.  And in counterpoint to the text it’s supposed to be elucidating.  And never is this more true in the case of Bach where the sermon would be delivered by the preacher and it would be laying down the law of the particular theme of the week which is based on the gospels or the epistle.  But the moment that Bach gets his hands on it he can then alter the speed of delivery.  He can alter the repetitions, the emphases, the way it comes over rather like a reiteration, like somebody who is giving a speech.
But a speech encoded, encrusted with the extra richness that music brings as a result of the interplay of all the factors of music – the harmony, the counterpoint, the polyphony, the orchestration, the individual timbre of instruments, the tessitura.  All these things which make it incredibly rich and a highly developed form of human utterance. "
In Their Own Words is recorded in Big Think's studio.
Image courtesy of Shutterstock

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