Prelude n.20 BWV 865
Do primeiro livro do Cravo Bem Temperado.
31 março, 2010
28 março, 2010
Alexandre Herculano "O homem que limpou o pó à História de Portugal"
Segundo o Público de ontem, a figura e a pessoa de Alexandre Herculano, está esquecida dos portugueses e institucionalmente também.
Há coisas que nunca se esquecem e uma das que eu nunca esqueci, do liceu, foi "A Dama Pé de Cabra". Não me esqueci do que li, mas também não me esqueci do homem. Não sabia muito acerca da sua vida e por isso fica aqui o artigo do Luís Miguel Queirós, de ontem no Público.
Há coisas que nunca se esquecem e uma das que eu nunca esqueci, do liceu, foi "A Dama Pé de Cabra". Não me esqueci do que li, mas também não me esqueci do homem. Não sabia muito acerca da sua vida e por isso fica aqui o artigo do Luís Miguel Queirós, de ontem no Público.
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20 março, 2010
Público - Elementos para pensar e actuar a nível do bullying
Público - Elementos para pensar e actuar a nível do bullying
Duas visões do mesmo problema no Público de hoje.
A segunda visão, de Francisco Teixeira da Mota, merece uma leitura atenta.
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16 março, 2010
Mozart Bond
Dois músicos excepcionais - Aleksey Igudesman e Richard Hyung-ki Joo - verdadeiros comediantes.
Deixo este vídeo hoje para animar uma amiga.
Deixo este vídeo hoje para animar uma amiga.
14 março, 2010
Que acolhimento têm, na Igreja, as mulheres, os intelectuais heterodoxos, os divorciados recasados, os homossexuais?
Não sendo eu católica, nem especialista em Religião, gosto muito das crónicas de Frei Bento. Esta particularmente, pois para não variar, é de uma lucidez incrível. Deveria ser lida por algumas pessoas que acham que são donas da verdade e que infestam, entre outras coisas, as caixas de comentários dos blogues na Internet (só para dar um exemplo!).
Uma parábola docemente inquietante
Por Frei Bento
O perigo das nossas leituras dos Evangelhos reside na forma habitual como são proclamados na liturgia
1.Os católicos que, hoje, forem à missa deparam com um texto do Evangelho de S. Lucas muito estranho. É tirado do capítulo 15. Este capítulo começa por dizer que todos os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o ouvir. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: este homem recebe os pecadores e come com eles.
Se tivermos em conta o que estas expressões e grupos sociais representavam, Jesus é o homem que subverte todos os valores. Gosta mais dos maus do que dos bons. As simpatias vão para os que não prestam. Ora, a virtude deve ser premiada e o vício reprimido.
Vem a seguir uma passagem que não pode fazer parte de um bom manual de pastorícia. Abandonar 99 ovelhas para ir procurar a que se tinha desligado do rebanho é expor-se a perdê-las todas. A parábola da dracma perdida, que segue a anterior, não sabe que o tempo é dinheiro. Por outro lado, ninguém dirá que a longa narrativa sobre o chamado filho pródigo possa figurar na biblioteca de uma Escola de Pais. Este capítulo, no seu conjunto, nem na secção de perdidos e achados faria boa figura.
Então, por que terá sido escolhida a última parte - a parábola impropriamente chamada do filho pródigo - para a missa do 4.° domingo da Quaresma? Serão também os Evangelhos "manuais de maus costumes", repetindo a expressão que José Saramago usou para o conjunto da Bíblia?
2.Este texto foi, pelo contrário, muito bem escolhido. Toca, de forma indirecta, segundo a linguagem própria das parábolas, no essencial da revolução religiosa de Jesus, perante a qual continua a existir grande resistência nas comunidades cristãs. Foi, aliás, para elas, para nós, que S. Lucas a escreveu.
Antes de mais, é preciso ler e entender o que está escrito. O núcleo da parábola não é constituído pela conversão do filho pródigo, como habitualmente se diz. Se assim fosse, teria de começar assim: um homem tinha um filho e este foi ter com o pai e pediu-lhe a herança que lhe correspondia... Ora, a parábola começa por dizer: um homem tinha dois filhos. Na lógica da parábola, o mais novo, o estoura-vergas, representa os classificados por pecadores e cobradores de impostos (duplamente pecadores) e o filho mais velho os fariseus e escribas, as duas categorias que presidem ao capítulo em análise, mas universalizando o alcance de duas típicas formas de existência.
A primeira retrata aqueles que, tendo vivido à margem de todas as regras, cometendo os maiores desvarios, descobrem, um dia, que andam a dar cabo da vida e, arrependidos, encontram o caminho da sua recuperação. A segunda representa o mundo religioso daqueles que medem tudo pela observância ou infracção da lei, sempre prontos a espiar o comportamento dos outros a partir da sua tabela de valores. O amor, a gratuidade, a compaixão, a festa, não fazem parte do seu universo e Deus é um juiz segundo as regras que eles estabeleceram em seu nome. Esquecemos, aliás, que a parábola é um triângulo e a revolução cristã não atinge só os típicos comportamentos dos dois filhos, mas sobretudo o comportamento do Pai, que nada tem a ver com a religião farisaica.
3.O perigo das nossas leituras dos Evangelhos reside na forma habitual como são proclamados na liturgia: Naquele tempo, etc. Fazem bem ao levar-nos até ao começo de dois mil anos de história cristã. O cristianismo também é uma memória. Corre-se, porém, o risco de pensar que os classificados como pecadores e publicanos e os designados por fariseus e escribas (os letrados) são categorias sociais e religiosas de um tempo que já passou e que não têm nada a ver connosco.
Na verdade, é precisamente o contrário. As comunidades cristãs de hoje não têm de resolver os problemas das primeiras comunidades e, muito menos, os confrontos em que Jesus foi envolvido. Se lemos os textos hoje, é para encontrar correspondências - não têm que ser literais, simétricas - no nosso tempo, na vida da sociedade e da Igreja; de outra forma, nada justificaria a sua leitura.
Seria, no entanto, perigoso participar numa celebração da missa e começar, cada um, a ver quem são os classificados como pecadores e os autenticamente fariseus da comunidade. Nada pode garantir o acerto. Por isso, Jesus proibiu-nos de julgar. Uma espantosa sabedoria, depois de muitas experiências ao longo dos séculos, chegou à conclusão de que a missa, celebrada em nome de Deus, deve começar sempre pelo acto de cada um se confessar pecador e pedir a misericórdia de Deus e dos irmãos. Sem apontar o dedo a ninguém, todos são interpelados, a começar por quem preside.
Nada disto impede que a Igreja, no seu conjunto, interrogue o Direito Canónico, os seus comportamentos e as diferentes instâncias das paróquias, das dioceses, do Vaticano, em suma, a sua pastoral à luz do capítulo 15 do Evangelho de S. Lucas, aqui evocado.
Que acolhimento têm, na Igreja, as mulheres, os intelectuais heterodoxos, os divorciados recasados, os homossexuais? Não haverá, hoje, nas comunidades cristãs, grupos que acham escandaloso que se perca tempo com ateus, agnósticos, imigrantes de outras culturas e religiões, com o pretexto de que vêm minar os nossos valores culturais e as raízes cristãs da Europa?
in Público, de 14 de Março de 2010
Uma parábola docemente inquietante
Por Frei Bento
O perigo das nossas leituras dos Evangelhos reside na forma habitual como são proclamados na liturgia
1.Os católicos que, hoje, forem à missa deparam com um texto do Evangelho de S. Lucas muito estranho. É tirado do capítulo 15. Este capítulo começa por dizer que todos os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus para o ouvir. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: este homem recebe os pecadores e come com eles.
Se tivermos em conta o que estas expressões e grupos sociais representavam, Jesus é o homem que subverte todos os valores. Gosta mais dos maus do que dos bons. As simpatias vão para os que não prestam. Ora, a virtude deve ser premiada e o vício reprimido.
Vem a seguir uma passagem que não pode fazer parte de um bom manual de pastorícia. Abandonar 99 ovelhas para ir procurar a que se tinha desligado do rebanho é expor-se a perdê-las todas. A parábola da dracma perdida, que segue a anterior, não sabe que o tempo é dinheiro. Por outro lado, ninguém dirá que a longa narrativa sobre o chamado filho pródigo possa figurar na biblioteca de uma Escola de Pais. Este capítulo, no seu conjunto, nem na secção de perdidos e achados faria boa figura.
Então, por que terá sido escolhida a última parte - a parábola impropriamente chamada do filho pródigo - para a missa do 4.° domingo da Quaresma? Serão também os Evangelhos "manuais de maus costumes", repetindo a expressão que José Saramago usou para o conjunto da Bíblia?
2.Este texto foi, pelo contrário, muito bem escolhido. Toca, de forma indirecta, segundo a linguagem própria das parábolas, no essencial da revolução religiosa de Jesus, perante a qual continua a existir grande resistência nas comunidades cristãs. Foi, aliás, para elas, para nós, que S. Lucas a escreveu.
Antes de mais, é preciso ler e entender o que está escrito. O núcleo da parábola não é constituído pela conversão do filho pródigo, como habitualmente se diz. Se assim fosse, teria de começar assim: um homem tinha um filho e este foi ter com o pai e pediu-lhe a herança que lhe correspondia... Ora, a parábola começa por dizer: um homem tinha dois filhos. Na lógica da parábola, o mais novo, o estoura-vergas, representa os classificados por pecadores e cobradores de impostos (duplamente pecadores) e o filho mais velho os fariseus e escribas, as duas categorias que presidem ao capítulo em análise, mas universalizando o alcance de duas típicas formas de existência.
A primeira retrata aqueles que, tendo vivido à margem de todas as regras, cometendo os maiores desvarios, descobrem, um dia, que andam a dar cabo da vida e, arrependidos, encontram o caminho da sua recuperação. A segunda representa o mundo religioso daqueles que medem tudo pela observância ou infracção da lei, sempre prontos a espiar o comportamento dos outros a partir da sua tabela de valores. O amor, a gratuidade, a compaixão, a festa, não fazem parte do seu universo e Deus é um juiz segundo as regras que eles estabeleceram em seu nome. Esquecemos, aliás, que a parábola é um triângulo e a revolução cristã não atinge só os típicos comportamentos dos dois filhos, mas sobretudo o comportamento do Pai, que nada tem a ver com a religião farisaica.
3.O perigo das nossas leituras dos Evangelhos reside na forma habitual como são proclamados na liturgia: Naquele tempo, etc. Fazem bem ao levar-nos até ao começo de dois mil anos de história cristã. O cristianismo também é uma memória. Corre-se, porém, o risco de pensar que os classificados como pecadores e publicanos e os designados por fariseus e escribas (os letrados) são categorias sociais e religiosas de um tempo que já passou e que não têm nada a ver connosco.
Na verdade, é precisamente o contrário. As comunidades cristãs de hoje não têm de resolver os problemas das primeiras comunidades e, muito menos, os confrontos em que Jesus foi envolvido. Se lemos os textos hoje, é para encontrar correspondências - não têm que ser literais, simétricas - no nosso tempo, na vida da sociedade e da Igreja; de outra forma, nada justificaria a sua leitura.
Seria, no entanto, perigoso participar numa celebração da missa e começar, cada um, a ver quem são os classificados como pecadores e os autenticamente fariseus da comunidade. Nada pode garantir o acerto. Por isso, Jesus proibiu-nos de julgar. Uma espantosa sabedoria, depois de muitas experiências ao longo dos séculos, chegou à conclusão de que a missa, celebrada em nome de Deus, deve começar sempre pelo acto de cada um se confessar pecador e pedir a misericórdia de Deus e dos irmãos. Sem apontar o dedo a ninguém, todos são interpelados, a começar por quem preside.
Nada disto impede que a Igreja, no seu conjunto, interrogue o Direito Canónico, os seus comportamentos e as diferentes instâncias das paróquias, das dioceses, do Vaticano, em suma, a sua pastoral à luz do capítulo 15 do Evangelho de S. Lucas, aqui evocado.
Que acolhimento têm, na Igreja, as mulheres, os intelectuais heterodoxos, os divorciados recasados, os homossexuais? Não haverá, hoje, nas comunidades cristãs, grupos que acham escandaloso que se perca tempo com ateus, agnósticos, imigrantes de outras culturas e religiões, com o pretexto de que vêm minar os nossos valores culturais e as raízes cristãs da Europa?
in Público, de 14 de Março de 2010
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10 março, 2010
Chopin, Mazurka op.67 no.4
Evgeny Kissin a executar uma das minhas peças preferidas de Chopin. Neste ano de 2010, ano dos duzentos anos do nascimento deste compositor. É uma boa razão para postar aqui a sua música. Pretendo voltar a fazê-lo.
04 março, 2010
O (não) fascínio de aprender
Uma citação de um livro de John Holt.
Apesar de ter sido escrito originalmente em 1967, revisto em 1983 e publicado em Portugal em 2001, continua a ser pertinente o seu conteúdo.
Do capítulo " A Arte, a Matemática e outras coisas", paginas 183,184:
" O desenho à escala encerra, igualmente, muitas possibilidades. Lembro-me de ver, quando era pequeno, alguém fazer uma cópia em ponto grande de uma imagem pequena, colocando o original numa grelha - papel quadriculado ou milimétrico - transferindo-o depois para uma grelha maior. Penso que até experimentei uma ou duas vezes e ficava sempre admirado ao ver que dava resultado. No entanto,isto não fazia parte do trabalho da escola, tínhamos de prestar atenção para não sermos vistos. Contudo, é fácil imaginar o fascínio de uma turma de crianças pequenas a começar com um pequeno desenho de linhas e a transformá-lo num cada vez maior, até consegui uma cópia que cobrisse uma parte da parede ou o quadro. Por sua vez, isto podia conduzir à noção de pontos coordenados, gráficos e geometria analítica, representando imagens com algo que não era uma imagem, mas sim uma função. Ou, de um ponto de vista diferente, podia fazer nascer a ideia de realizar desenhos exactos de vários objectos, em várias escalas, passando daí à medição, não só de comprimentos, mas também de ângulos, sendo até possível chegar à feitura de mapas.
É fácil ver quanta aritmética está presente nisto. Uma das ideias fundamentais subjacentes às actividades da escola é que as crianças têm de passar muitos anos a memorizar uma série de factos aborrecidos, antes de poderem começar a fazer coisas interessantes com eles. É uma forma idiota de fazer as coisas e não funciona. A maior parte das crianças aborrece-se tanto com essa aprendizagem que desiste antes de ter adquirido os conhecimentos suficientes que lhe permitiria fazer algo interessante. E mesmo entre as crianças que aprendem todos esses factos, a maioria fica com o raciocínio tão embotado por este processo que não consegue lembrar-se de nada interessante em que os aplicar, limitando-se a acumular mais e mais factos - o que explica grande parte da actividade que se desenvolve nas nossas escolas superiores e universidades."
in "Como aprendem as crianças", de John Holt, 1967, 1983. Editorial presença 2001, tradução de Isabel Nunes
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