O comentário de Jorge Almeida Fernandes, hoje no Público.
Vale a pena ler!
A queda do regime de Muammar Khadafi é um acontecimento impressionante. Muitos a olham já como o detonador da segunda vaga ou de um segundo alento das revoluções árabes. É fascinante a vários títulos. Marca o fim de seis meses de guerra civil e de quatro de intervenção da NATO. Por outro lado, Khadafi não é um déspota cinzento como o tunisino Ben Ali, com quem tudo começou. O espalhafatoso coronel é uma vedeta, um clown "global", praticamente desde que conquistou o poder há 42 anos. Foi o encenador do seu próprio espectáculo. Por isso, mais impressionante é a queda.
O público maravilhou-se com o "efeito dos dominós" - Tunísia, Egipto, Líbia, Iémen, Bahrein, Síria... O temor do contágio levou alguns governantes - inclusive os sauditas, guardiões da ordem - a ensaiar reformas, umas cosméticas, outras com algum alcance, caso de Marrocos. Os últimos meses foram marcados pela derrota dos manifestantes xiitas do Bahrein, pela repressão na Síria e pela imagem de atolamento das transições nos próprios países exemplares - a Tunísia e o Egipto.
"Muita da visão convencional nas últimas semanas era a de que a Primavera Árabe se estava a transformar num Verão maçador", escreveu ontem o americano Philip Zelikow no Financial Times. "A queda do coronel Khadafi vai renovar o ímpeto." Para já na Síria. Mas provavelmente ressoará por todo o Magrebe e no Golfo Pérsico. Vários analistas árabes esperam que a máquina revolucionária reentre em funcionamento.
O teste sírio
O primeiro teste será logicamente em Damasco. O regime de Bashar al-Assad perdeu a legitimidade. Tem sido objecto de uma política de influências cruzadas entre a Turquia, o Irão e a Arábia Saudita. A capacidade de arbitragem das potências regionais está a esgotar-se. Damasco não escuta os conselhos reformistas turcos, estes são contrariados pelo Irão, que tem meios de pressão sobre Ancara, enquanto a Arábia Saudita espreita o momento de colher os frutos da sua discreta intervenção. A queda de Assad mudaria o xadrez regional. Israel assiste inquieto, já que outra peça do tabuleiro regional se começou a mover em seu desfavor - o novo Egipto. Note-se que a ameaça de outro incêndio em Gaza pode obrigar os actores a refazer todos os cálculos.
O regime sírio resiste, mas desgasta-se inexoravelmente. Explica um diplomata francês, recém-chegado de Damasco, que também a capital se começa a mover, pacientemente, da periferia para o centro. As manifestações mudam a vida das pessoas pelo simples facto de elas "poderem gritar a sua cólera quanto mais não seja por alguns minutos". "Este efémero sentimento de liberdade contribui para destruir o seu maior inimigo - o muro do seu medo pessoal. (...) O regime não poderá aguentar o ritmo actual da repressão e da vigilância." Há fissuras na sua própria base de apoio, a minoria alauíta.
As difíceis transições
A Tunísia e o Egipto têm sido olhados como decepção. "Os países em transição enfrentam imperativos contraditórios", escreve Marina Ottaway, do Carnegie Endowment for International Peace. "Precisam de andar depressa para eleger governos legítimos que possam fazer verdadeiras reformas, mas precisam de tempo para obter consensos sobre princípios", consolidar os partidos e fazer leis eleitorais. Entretanto, "as pessoas estão cansadas de esperar e querem ver mudanças" e dão sinais de que podem voltar às ruas.
"A lição da Tunísia e do Egipto para os países que vão entrar em transição é que é impossível - e até desaconselhável - organizar eleições em poucos meses." Mas um "processo lento" exige um plano de acção e um calendário rigorosos para que os governos não percam a legitimidade, conclui Ottaway.
As instituições exigem tempo. Se milhões de jovens árabes se emanciparam mentalmente em meses, a "Primavera" não se avalia em meses, mas em anos. Trata-se de uma insuportável eternidade para os media, disse alguém.
O principal equívoco é tomar a liberdade como uma espécie de estado natural do homem, o que conduz à ideia peregrina de que, derrubado o tirano, a democracia se derrama sobre os cidadãos. A democracia só existe sobre instituições.
É este o novo problema da Líbia, país sem Estado, sem sociedade civil, sem partidos e sindicatos. As ameaças são o vazio e o caos. Não há forças com legitimidade e capacidade para governar. Por isso a vitória sobre Khadafi foi ironicamente qualificada de "sucesso catastrófico". Recusar o caos é começar por procurar um consenso entre tribos e regiões e um tipo de poder que a generalidade dos cidadãos aceitem. Não há democracia de dominós.
23 agosto, 2011
16 agosto, 2011
Song Without Words Op.102 no.1 in E Minor
Mais Mendelssohn, tocado por Barenboim. Mais Canções sem palavras.
Lied ohne Worte, em alemão, de um compositor que também nasceu em Hamburgo.
Lied ohne Worte, em alemão, de um compositor que também nasceu em Hamburgo.
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Hamburgo,
Palavras para quê? Mendelssohn. Barenboim
14 agosto, 2011
"Ou as coisas mudam, ou muito ainda está para vir"
A última parte de uma entrevista a dois jovens ingleses, socialmente interventivos. Muito novos mas que sabem o que dizem.
Vale a pena ler hoje no Público esta entrevista e todo o artigo sobre os motins em Inglaterra.
O que é que Cameron devia fazer?
Amena Amer: Abrir os olhos. E perceber de onde vêm estas pessoas, a discriminação que sentem na polícia e no Estado há anos e a falta de oportunidades por serem de determinada minoria. Se só tentarmos restaurar a ordem sem abordar isto, ficamos sem capacidade para prever o quão pior será da próxima vez.
Symeon Brown: Mais segurança nas ruas é importante. Mas a seguir é preciso perceber a criminalidade juvenil. É preciso falar de cidadania e de identidade e por que há algumas pessoas que se identificam com a comunidade e outras não. Há esta ideia de que estão a incendiar as sua próprias comunidades, mas será que as sentem como suas? Porque é que achamos isso, quando tivemos Thatcher a dizer que não há sociedade, apenas indivíduos e as suas família? Claramente há muito a fazer, mas não acredito que exista vontade para fazer esse debate.
Vale a pena ler hoje no Público esta entrevista e todo o artigo sobre os motins em Inglaterra.
O que é que Cameron devia fazer?
Amena Amer: Abrir os olhos. E perceber de onde vêm estas pessoas, a discriminação que sentem na polícia e no Estado há anos e a falta de oportunidades por serem de determinada minoria. Se só tentarmos restaurar a ordem sem abordar isto, ficamos sem capacidade para prever o quão pior será da próxima vez.
Symeon Brown: Mais segurança nas ruas é importante. Mas a seguir é preciso perceber a criminalidade juvenil. É preciso falar de cidadania e de identidade e por que há algumas pessoas que se identificam com a comunidade e outras não. Há esta ideia de que estão a incendiar as sua próprias comunidades, mas será que as sentem como suas? Porque é que achamos isso, quando tivemos Thatcher a dizer que não há sociedade, apenas indivíduos e as suas família? Claramente há muito a fazer, mas não acredito que exista vontade para fazer esse debate.
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Política?
10 agosto, 2011
Album Blatt Opus 117 by Felix Mendelssohn
Mais uma Canção sem palavras. Em mi menor.
Albumblatt Opus 117 by Felix Mendelssohn, performed by an amateur pianist in Kibbutz Mishmar HaEmeq, Israel, for the celebration of Mendelssohn's 200 anniversary. February 2009.
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Palavras para quê? Mendelssohn.
07 agosto, 2011
Songs Without Words Op.85 no.4 in D Major
Barenboim plays Mendelssohn
Palavras para quê?
Palavras para quê?
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Palavras para quê? Mendelssohn. Barenboim
03 agosto, 2011
Obrigadinho por nada
Na crónica de hoje, no Público, Rui Tavares no seu melhor!
E é que não há maneira de verem!
"Este acordo não é bom para os EUA, que arriscarão trocar uma recuperação fraquinha por um regresso à recessão, e não é bom para o resto do mundo, cada vez mais rendido à ilógica da austeridade expansionária. Quando toda a gente cortar custos para ficar mais competitivo, que vamos fazer com a competitividade ganha? Exportar para Saturno?"
E é que não há maneira de verem!
"Este acordo não é bom para os EUA, que arriscarão trocar uma recuperação fraquinha por um regresso à recessão, e não é bom para o resto do mundo, cada vez mais rendido à ilógica da austeridade expansionária. Quando toda a gente cortar custos para ficar mais competitivo, que vamos fazer com a competitividade ganha? Exportar para Saturno?"
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Rui Tavares
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