25 fevereiro, 2007

Traz outro amigo também

A arte de José Afonso é um jorro de água clara, puríssima, portuguesa sem mácula. Realmente é a «pureza» a nota maior desta arte: pureza de voz, pureza no poema, pureza na música. Neste disco, um dos mais ricos quanto a valores poéticos, é ela que domina: trova antiga purificada, folclore limpo de excrescências, balada de combate em que a justiça vai de bandeira. E o ouvinte fica tonificado, «limpo», cheio de graça, com mais vigor para a luta.
No chiqueiro velho e saudosista, insignificativo e feio da música ligeira do nosso país, José Afonso surgiu como um renovador: de risco claro e leal, com punho duro de diamante, terno e gentil sem amaneiramentos. Limpou crostas, desatou amarras, descobriu ramos verdes e ocultos, abriu janelas na parede bolorenta do fatalismo lusíada. E como esta arte pura e viril habitava já nebulosamente, nos anseios da juventude que tanto pechisbeque musical mórbido e paupérrimo trazia nauseada, José Afonso conseguiu rapidamente uma enorme audiência: ele é hoje o mais autêntico trovador do povo português, nesta hora que todos vivemos. Ninguém melhor que ele transmite os seus desesperos e raivas, as suas aspirações de amor, de paz, de justiça, de verdade. Por isto, todos o amam. E o amor do povo, dos jovens, de todos aqueles que ainda não estão definitivamente contaminados, esclerosados, é, tenho a certeza! a recompensa e a glória de José Afonso.
Nem tudo está pobre no reino da Dinamarca.


Bernardo Santareno

Publicado na revista Mundo da Canção, nº12, ANO I, 15/11/1970

5 comentários:

  1. Que actualidade. Quando penso no José Afonso fico sempre com um amargo de boca. Como Portugal foi miserável com ele nos seus últimos anos. De facto os tempos não mudam. Dois dos maiores compositores de sempre (o outro é obviamente o Carlos Paredes) no Portugal "contemporâneo" (risos) largados na berma da miséria e do abandono. Claro que depois da morte, com uma distância mínima de vinte anos claro está, hão-de ser os maiores.
    ...e a Europa aqui tão perto

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  2. Não percebo nada de blogs. Zéquinha

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  3. Pois é Zéquinha, eu também não percebo muito disto, tive alguma ajuda, mas acho que é um bom sítio para encontrar os amigos e para partilhar coisas que achamos importantes e nos aparecem pela frente.
    Depois então falamos.
    Saudades, Susana

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  4. OS POETAS

    Vivem no escuro
    filhos enjeitados
    duma Pátria que ousaram
    chamar Mãe
    Na miséria morrem
    e o esquecimento
    é sua única mortalha.

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  5. «times they are a'changin'...»

    http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/03/374608.shtml

    http://www.rojoynegro.info/2004/article.php3?id_article=14030

    http://luta-social.blogspot.com/2007/02/great-global-action-2007-die-weltweite.html

    what are we fighting for???

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